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Lua de Mel Mortal: O Caso de Anni Dewani

Na manhã do dia 14 de Novembro de 2010, exatamente às 7:50 da manhã, o corpo de Anni Dewani, de 28 anos, foi descoberto sem vida dentro de uma viatura Volkswagen Sharan numa zona de Cidade do Cabo, na África do Sul.

Anni Dewani no dia do seu casamento

Anni Ninna Dewani, nascida a 12 de Março de 1982, era uma mulher sueca de origens indianas. Anni estava em lua de mel com o seu recém-marido, Shrien Dewani. Anni e Shrien conheceram-se em Londres, em 2009, e mantiveram uma relação em longa distância, até Anni se mudar para o Reino Unido, em Março de 2010.
Anni Dewani e Shrien Dewani
No mês imediatamente a seguir, em Maio, os dois ficaram noivos e apesar da sua relação ser, por vezes, conturbada, os dois casaram-se a 29 de Outubro de 2010, em Mumbai, na Índia.

Um mês depois da cerimónia, o casal partiu para a sua lua de mel, na África do Sul e a 7 de Novembro de 2010, Anni e o marido chegaram ao Parque Nacional Kruger, onde ficaram quatro noites antes de voltarem para o Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo, onde conheceram pela primeira vez o taxista Zola Tongo, que levou o casal até ao Cape Grace Hotel, um hotel de cinco de estrelas, de luxo.

A 13 de Novembro, depois de contratarem Tongo como seu motorista recorrente e guia turístico, o casal foi levado pelo taxista pela cidade no seu Volkswagen Sharan, até ao restaurante Surfside em Strand, onde o casal jantou.
Depois do jantar, Tongo levou o casal até ao distrito de Gugulethu, que ficava a quinze quilómetros da Cidade do Cabo. Pouco depois de sair da estrada principal, o veículo foi sequestrado por dois homens armados e depois de percorrer uma pequena distância, Tongo, o taxista, foi expulso do táxi. Passados mais vinte minutos de condução, Shrien Dewani foi também expulso do veículo, depois de os sequestradores terem ficado com o seu dinheiro, carteira, relógio de marca e telemóvel, ficando apenas Anni dentro do mesmo com os dois sequestradores. Shrien conseguiu encontrar uma pessoa na rua, que o ajudou a contactar a polícia.

Shrien regressou ao hotel onde o casal estava hospedado e contactou a família dele e da esposa para contar o que acontecera. Na manhã do dia seguinte, o pior aconteceu: Anni foi encontrada morta, no banco de trás do Volkswagen Sharan.
Anni morreu na consequência de um único tiro no pescoço, que lhe chegou a atravessar a mão. Mais tarde, a polícia confirmou que o relógio da Giorgio Armani de Anni, a pulseira de ouro e diamantes, a mala e o telemóvel de Anni foram levados. O valor estimado para os objetos roubados durante o assalto armado é de cerca de 6000 euros.

Nos dias que seguiram ao ocorrido, várias detenções foram feitas:

Xolile Mngeni
Logo a 16 de Novembro de 2010, Xolile Mngeni foi detido, na sequência da descoberta de uma impressão digital encontrada dentro do táxi abandonado. Mngeni confessou o seu envolvimento em sequestro, assalto à mão armada e rapto. Ele identificou as vítimas como sendo Anni e Shrien Dewani e disse que Qwabe alvejou Anni durante uma luta pela sua mala.

Mziwamadoda Qwabe
A 18 de Novembro, Mziwamadoda Qwabe foi detido, na sequência de uma pista de um informante policial. Inicialmente, Qwabe negou o seu envolvimento, mas depois de consultar com os seus co-conspiradores, Mbolombo e Mngeni, admitiu o seu envolvimento em sequestro, assalto à mão armada e rapto. Tal como Mngeni, Qwabe identificou Anni e Shrien Dewani como sendo as vítimas. No entanto, Mziwamadoda alterou o seu testemunho numa entrevista gravada mais tarde no mesmo dia, afirmando que o incidente foi um homicídio planeado por Shrien Dewani.

Monde Mbolombo
No mesmo dia, Monde Mbolombo foi detido, como resultado de Qwabe ter fornecido o seu nome às autoridades. Apesar de, inicialmente, negar o seu envolvimento no ocorrido, à tarde, Mbolombo gravou uma confissão, admitindo ter planeado o sequestro e o assalto. No entanto, a confissão não mencionava qualquer tipo de assassínio planeado ou o envolvimento de Shrien Dewani. No dia seguinte, Mbolombo mudou o seu testemunho, dizendo que toda a operação não passou de um homicídio planeado por Shrien Dewani.
Zola Tongo

Zola Tongo, o taxista, reportou o sequestro do seu veículo numa esquadra em Gugulethu logo depois de ser expulso do veículo e afirmou ser uma vítima que desconhecia de tudo o que tinha ocorrido. A 17 de Novembro, Tongo voltou a declarar às autoridades que era uma vítima inocente e, finalmente, a 20 de Novembro, Tongo rendeu-se às autoridades e afirmou que a operação foi um homicídio planeado por Shrien Dewani, que foi feito de maneira a parecer um sequestro aleatório.

Uma das teorias mais relatadas pelos media no seguimento deste crime, foi a de Shrien Dewani, o marido de Anni, ter contratado um assassino para matar.
Após serem detidos e confrontados com a hipótese de prisão perpétua, Qwabe e Mbolombo alteraram o seu testemunho, declarando que toda a operação foi um homicídio planeado por Shrien para matar a mulher. Quando Zola Tongo foi detido, depois provas que provavam o seu envolvimento no caso terem sido reveladas, este confirmou também que Shrien tinha contratado um assassino para matar Anni.
Shrien Dewani

O motivo apontado para Shrien querer a morte de Anni era a sua sexualidade: esta foi questionada quando um prostituto alemão afirmou ter-se encontrado pelo menos três vezes com Shrien para satisfazer as suas fantasias sexuais.

No seu livro Anni: a Father's Story, escrito por Vinod Hindocha, o pai de Anni, este afirma que nos dias que se seguiram à morte de Anni, Shrien foi algo desrespeitoso e quase apático à morte de Anni. Vinod reporta alguns destes momentos que passou com Shrien após a morte de Anni, nomeadamente o momento em que Hindocha pede para ver o corpo da filha e em que Shrien lhe responde: 
Não a podes ver hoje. Ela está totalmente esvaziada. Ela não tinha sangue nenhum no corpo. Eles têm de a encher de líquido e fazê-la parecer boa
Outro momento que o pai de Anni relata é quando Shrien e a sua família tratam de todo o funeral de Anni, sendo que a família de Anni foi convidada por Facebook:
 Em vez disso, recebemos os nossos convites [para o funeral] por Facebook sobre onde devíamos estar e a que horas devíamos lá estar
Anni Dewani com a mãe, Nilam Hindocha e Vinod Hindocha
Finalmente, Vinod relata que no dia do funeral de Anni, Shrien, aparentemente, foi com a irmã de Anni à casa funerária para a vestir e forçou um conjunto de pulseiras no pulso inchado de Anni e, depois do funeral, organizou uma "pizza party" para, supostamente, lembrar a memória de Anni.

Apesar do comportamento de Shrien, existem vários factos que põem em causa a veracidade desta teoria:

Em primeiro lugar, acordos jurídicos atrativos foram feitos com os detidos que oferecessem testemunhos relacionados com o crime e, quando Tongo, Qwabe e Mbolombo modificaram o seu testemunho para relatar o envolvimento de Shrien Dewani no caso, as suas penas foram reduzidas: Zola Tongo declarou-se culpado de homicídio em Dezembro de 2010 e foi condenado a 18 anos na prisão; Mziwamadoda Qwabe também se declarou culpado de homicídio em Agosto de 2012 e foi condendo a 25 anos na prisão; por fim, Monde Mbolombo admitiu o seu envolvimento, mas foi-lhe oferecida imunidade em troca pelo o seu testemunho contra os outros envolvidos no crime.
No entanto, o único detido que não referiu o suposto envolvimento de Shrien Dewani, Xolile Mngeni, foi o único condenado a prisão prepétua depois de ter sido declarado como culpado de homicídio em Novembro de 2012.

Em segundo lugar, procuradores sul-africanos formularam acusações contra Shrien Dewani, baseadas nas confissões de Tongo, Qwabe e Mbolombo. As acusações foram feitas com base na ideia de que Anni tinha sido uma vítima de um rapto premeditado e um homicídio planeado, que foi feito de maneira a parecer um assalto aleatório.
No entanto, no seguimento de uma longa batalha legal, Shrien foi extraditado do Reino Unido para a África do Sul para enfrentar o julgamento. Ele acabou de ser exonerado por decisão da Suprema Corte do Cabo Ocidental em Dezembro de 2014, visto que não havia qualquer evidência credível para suportar as alegações contra ele ou de que o crime foi um homicídio encomendado premeditado.

Em terceito lugar, parece pouco provável que Shrien confiasse num taxista que acabara de conhecer para lhe pedir um assassino contratado para matar a sua mulher, com quem, tinha sido provado, estava a tentar ter um filho.

Por fim, em 2011, novas provas apareceram que alegavam que Anni tinha sido vítima de uma violação. Uma testemunha, que viu o corpo de Anni no banco de trás do táxi, afirmou que a roupa interior de Anni estava puxada para baixo e o seu vestido puxado para cima. No relatório post mortem, feito na África do Sul, mostra que a perna de Anni tinha várias nódoas negras que, segundo o relatório, eram consistentes com marcas de dedos e estas mostram que o assassino pode ter tentado abrir as pernas da vítima e a mão que a vítima tinha levantada, indica que Anni pode ter tentado resistir à tentativa de violação.

Uma outra teoria apontada, para além de Shrien ter contratado um assassino para matar a mulher, e que parece mais plausível, é a de que Qwabe, Mbolombo e Tongo criaram a história do envolvimento de Shrien para evitar a sentença de prisão perpétua e que o governo sul-africano aceitou esta versão, mesmo sabendo que esta não seria válida, para evitar o decréscimo do turismo no país, visto que o Mundial da FIFA de 2010 tinha ocorrido na África do Sul e tinha trazido um aumento exponencial de turistas à região.

Em conclusão, há que ter noção de que o que foi aqui relatado foi real e que uma pessoa real morreu, trazendo muito sofrimento a uma família que perdeu alguém querido e para sempre vão viver com esse peso…

Anni Dewani


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